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Congressos e Seminários

Congresso Internacional «Goa: Passado e Presente» (2011)

Tendo ocorrido em 2010 os quinhentos anos sobre o relacionamento de Portugal com Goa, entendeu o CEPCEP promover a realização de um colóquio que se realizou de 26 a 28 de Outubro de 2011. Foram co-organizadores deste evento a Associação de Amizade Portugal Índia, a Casa de Goa, o Instituto de Estudos Asiáticos da AESE, o Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores, o Centro Nacional de Cultura, o Instituto de Estudos Orientais da UCP e o Instituto de Etnomusicologia (INET)-Pólo da Universidade de Aveiro.

Foram analisadas as seguintes temáticas:

- Língua e Literatura:

O universo linguístico de Goa revela forte especificidade. Além das línguas locais mais faladas, como o concani e o marata, o goês usa também na actualidade o hindi e o inglês, difundidos como principais idiomas de ensino.

Apesar de ter sido falado durante 450 anos em Goa, sobretudo pela elite do Estado da Índia, o português nunca conseguiu difundir-se e concorrer com as línguas locais. Com o fim da ocupação em 1961, este passou a ser visto como o idioma do ex-colonizador. Contudo as obras literárias e os documentos ali produzidos em língua portuguesa farão sempre parte da história de Goa.

Neste contexto refiram-se os dois extraordinários repositórios do português escrito, que são o Arquivo Histórico e a Biblioteca Central. Aqui guardam-se documentos de toda a sorte sobre a história da presença europeia no Índico e das suas relações com os asiáticos e uma extensa colecção de publicações periódicas dos séculos XIX e XX documentando o quotidiano goês, onde a literatura ganhou um lugar privilegiado. Uma pequena produção de livros de poesias e de contos também teve lugar em Goa, dando origem a um universo literário bastante específico.

Esta temática teve por objectivo reflectir sobre esta produção linguística e literária no passado, no presente e mesmo no futuro, já que estas permanecem vivas.


- Património Material e Expressivo:

Falar de Goa é enunciar um lugar onde a relação entre o património material e o expressivo ocupa um papel central na definição da própria goanidade e no modo como os goeses procuram reconstruir o seu lugar na história e no mundo. Marcado pelo compromisso evidente entre Portugal e a Índia, o património material e expressivo de Goa descreve uma paisagem humana singular e um território ímpar.

Porém, enquanto o património material se circunscreve ao próprio território de Goa, o património expressivo mostra-nos também como Goa é um espaço de múltiplos lugares, marcados pela forte comunidade diaspórica dispersa pelo mundo e portadora de uma mensagem de goanidade que passa, também, pela performance da diferença através da dança, da música ou do teatro.

Convidou-se à apresentação de propostas com o enfoque nas temáticas associadas ao património material e expressivo de Goa e que reflectissem sobre o seu lugar na cultura goesa, sobretudo no contexto contemporâneo.


- Convivências e Religião:

Cidade fronteira entre os poderes islâmico e hindu, Goa era uma cidade em que as religiões conviviam, quando foi conquistada por Afonso de Albuquerque. A vitória dos Portugueses levou à saída dos muçulmanos e à entrada dos cristãos.

Num tempo de militância e de intolerância, Goa testemunhou o esforço de milhares de religiosos que se dedicaram à transmissão do Evangelho e viu mesmo crescer, desde cedo, uma numerosa comunidade de clérigos goeses. A partir de meados do século XVI, a cidade cristã deixou de ser um espaço de diálogo inter-religioso, como foi nas décadas logo posteriores à conquista, mas não deixou de ser uma área de interacção silenciosa entre o Cristianismo e o Hinduísmo. A arte sacra é o melhor testemunho desse encontro, pois muitos dos artesãos que deram corpo às imagens cristãs, estavam condicionados por práticas ancestrais que foram aplicadas à nova religião.

A par da religião dos senhores da cidade, a religião hindu persistiu, e foi sempre maioritária nas Novas Conquistas. Terminado o período da militância missionária, intensificou-se a convivência pacífica das duas comunidades, a que se foi juntando um novo grupo de muçulmanos. Na sua longa duração, Goa foi, pois, um espaço de convivências religiosas que ainda são mal conhecidas e que urge descobrir ou revisitar.


- Economia e Desenvolvimento:

Ao longo dos tempos Goa foi um pólo que resultou não só da sua função estratégica e económica, mas também de centro político-administrativo como capital do Estado Português da Índia. O comércio e as várias carreiras comerciais e nomeadamente a Carreira da Índia deverão ter especial atenção. Mas também a agricultura e a indústria são aspectos que merecerão estudo e reflexão, o mesmo acontecendo com as questões de natureza financeira sempre presentes ao longo dos séculos.

Goa, depois do seu apogeu nos séculos XVI e XVII, foi perdendo importância económica, não obstante alguns esforços de fomento. Após 1961, conheceu um forte impulso desenvolvimentista em todos os níveis de ensino, na agricultura, na indústria e nos serviços, transformando-se rapidamente num dos mais prósperos Estados da União Indiana e numa atracção turística mundial.


- Território e Identidade:

A geografia física não explica por si só a identidade goesa, mas o facto de Goa ser um porto, local de passagem e de trocas, ajuda a perceber o carácter e a circulação do goês pelo mundo. Mas antes de sair para o mundo, o goês definiu-se num espaço geográfico diminuto onde se combinaram elementos hindus e portugueses dando origem a uma mestiçagem social e cultural multiforme que amadureceu e evoluiu desde então. Não há, por isso, uma imagem única, mas várias representações possíveis em constante mutação da identidade goesa consoante a latitude em que o goês se encontra, tanto no território original como na diáspora.

Mais do que uma língua, a sua identidade exprime-se numa cultura própria que usa os vários idiomas que foram colocados ao seu dispor, reflectindo a riqueza compósita da sua formação e de todas as contribuições que a engrandeceram. A identidade também passa por uma maneira de estar no mundo, por hábitos e costumes que surgiram do convívio do goês com as demais sociedades em que viveu. E, acrescente-se, que reproduz e dissemina usando todos os meios ao seu dispor.

A identidade goesa resultará, assim, da justaposição destas várias camadas em perpétua evolução desde o século XVI e que deu origem a um processo que tornou o goês no intermediário, por excelência, de um processo de intercâmbio e diálogo civilizacional que permanece vivo e actual.

 

Realização: 26 a 29 de Outubro de 2011.

Coordenador: Artur Teodoro de Matos.

 



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